OSTENTAÇÃO E VIOLÊNCIA.

Narco Cultura (Narco Cultura) – 2013.

Dirigido por: Shaul Schwarz.

Duração: 103 minutos.

 

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Não consegui assistir este filme quando ele passou no festival in-edit brasil de 2014, mas consegui uma cópia do filme, em mãos no conforto do lar com os ruídos da cidade de São Paulo adentrando a janela pude ver este documentário dirigido pelo diretor israelense Shaul Schwarz que também é um experiente fotógrafo de guerra. Se você quer se surpreender totalmente com as estórias do filme, leia o texto inteiro somente após assistir o filme.

Sem Título-1Narco Cultura é um documentário que segue duas linhas narrativas que se convergem, mesmo que alas estejam distantes. Uma das estórias é sobre a vida de um criminalista da polícia mexicana que atende várias ocorrências por dia de crimes de assassinato cometidos principalmente pelo cartel de narcotráfico do México e vive sobre constante perigo de morte; o outro personagem do filme é sobre um cantor de narco-corrido que vive nos Estados Unidos da América, o narco-corrido é uma música que parece um pouco com as músicas dos mariachis só que com letras que glorificam o poder dos narcotraficantes e suas violências.

O criminalista Rich Soto vive em uma cidade na fronteira com os EUA chamada Juarez que é a cidade com maior taxa de assassinatos do México, Rich Soto apesar de ver Sem Título-5diariamente diversos corpos mutilados leva uma vida aparentemente tranquila, pelo menos Soto mostra certa frieza diante das câmeras, talvez uma frieza que adquiriu ao se tornar policial ou também por se acostumar a ver tantos corpos de pessoas mortas, ao mesmo tempo ele parece não estar totalmente contente com a vida que leva, já que ele não pode sair de sua casa, é sempre do trabalho para casa e da casa para o trabalho, sua família que vive na cidade não gosta do seu trabalho, vários de seus colegas de trabalho já morreram em serviço, em retaliações à investigações feitas ao cartel mexicano, Soto quer o dinheiro para poder ter maior estabilidade em sua vida e poder ir morar com sua esposa e filhos que vivem do outro lado da fronteira.

Edgar Quintero é um cantor de narco-corrido, ele não é um narco-traficante ele apenas faz músicas sobre o narco-tráfico e também aceita encomendas de traficantes Sem Título-3para fazer músicas especialmente para eles, sempre glorificando os feitos dos traficantes, Quintero parece viver uma vida fora da realidade em alguns momentos, ele tem muito dinheiro, no EUA este tipo de música dá muito dinheiro, chega até a ter uma certa popularidade até entre os estadunidenses, principalmente os de origem latina, mas o narco-corrido foi proibido em rádios e na televisão, então ele fica apenas nas comunidades de estrangeiros e em alguns momentos em shows de narco-corridos que parecem grandes bailes de música country, mas em vez de falarem da vida no campo as letras são voltadas ao mundo dos narco-traficantes.

Em um momento a equipe do documentário acompanha Quintero, que vai até o México para poder conhecer melhor o país e saber mais sobre o que ele canta. Há imagens dignas de completa ostentação, há um cemitério onde os túmulos são verdadeiras mansões, onde apenas a pessoa e sua família podem ser enterradas, são túmulos que tem até vidros à prova-de-balas, é algo totalmente insano de se ver, os traficantes e poderosos dos Cartéis mexicanos ganham tanto dinheiro com a droga que não tem onde gastar, eles não podem investir esse dinheiro em “empresas oficiais” então muitas vezes eles fazem este tipo de excentricidade.Sem Título-4

Uma das coisas mais interessantes do documentário é como a equipe teve acesso à vida destas pessoas, tanto no México, junto de uma equipe especializada em ir até a cena do crime e descobrir o que aconteceu, não necessariamente encontrar os culpados, esta não é a função dos criminalistas e também como eles conseguiram filmar a intimidade de pessoas ligadas ao tráfico de drogas, além da coragem da equipe de estar em lugares extremamente violentos para contar estas estórias, vejo que os cantores de narco-corridos e os narco-traficantes adoram uma exposição também, eles querem que outras pessoas saibam que eles são a autoridade, não é o governo e sua polícia que comanda aquela área, e que se eles querem produzir e vender drogas, acabar com cartéis vizinhos com violência muito acima do que apenas alguns tiros, Sem Título-2eles vão e fazem, e há diversas imagens dignas de filmes no estilo “faces da morte”.

Falando da parte técnica do filme, não há algo muito diferente do que já se viu em outros documentários, são entrevistas com câmera parada entrevistando os personagens principais e também outras pessoas próximas ao assunto ou os personagens para corroborarem as estórias contadas, também há câmeras na mão/ombro acompanhando os personagens e a câmera realmente mostra pessoas despedaçadas e muito sangue, é um filme com imagens fortes de uma violência que ocorre no México contrastando com as festas de quem faz música glorificando a morte de outras pessoas. A estética do filme em geral é muito boa, nada novo, mas muito bem feito e tudo que ele propõe esteticamente dialoga com o assunto abordado.

O filme vale ser visto para poder conhecer Sem Título-6esta estória de violência que ocorre nos dias atuais no México, uma das partes interessantes do filme é a informação de que em Juarez foram assassinadas mais de 3 mil pessoas em 2010 e na cidade estadunidense somente 5 assassinatos e é lá em El Paso que os artistas de narco-corrido fazem fama e dinheiro, cantando com bazucas em suas costas e tudo isso não é tão divulgado pelo mundo, morre muito mais pessoas do que em algumas guerras que acontecem pelo mundo, e porque ela não é tão divulgada, principalmente no Brasil? Será que é muito longe e não afeta a nossa economia? Será que as grandes empresas e os governos tem algum interesse sobre a venda de drogas e a guerra entre cartéis? Cabe a cada pessoa responder estas e outras perguntas que podem surgir na reflexão de cada pessoa após assistir ao filme, enquanto uns detem o poder segundo as leis outros detem o poder pela violência e estes dois poderes em alguns momentos mantém o mesmo interesse. Um belo documentário para conhecer sobre o narco tráfico e o narco corrido, o que aqui é intitulado como narco cultura.

 

TRAILER:

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